quarta-feira, setembro 29, 2010


A Bailarina...

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A delicadeza sobre a qual se mantinha em cima daquelas sapatilhas de bailarina dava a ela um ar ainda mais belo de sua beleza natural. Sua roupa feito can can, deixava-a como uma figura infantil, que fazia par com seus dois coques no topo de sua cabeça ruiva. E lá estava eu, fugindo mais uma vez de minhas aulas chatas de literatura, para sentar no canto escuro do teatro gigante, apenas para observá-la. Era incrível como ela me parecia fascinantes todos os dias. Apenas ela parecia ter o dom de saltitar e ao mesmo tempo flutuar. - Bailarina, dona dos meus bons pensamentos. Um dia irei conquistá-la. – Sussurrei essas palavras como se a mesma pudesse me ouvir. Em vão. Mas, eu sabia, eu sabia que não era possível. - Ei, tu aí. O que estás a fazer aqui? Não tens aulas há esta hora? - Meus pensamentos foram interrompidos por aquela voz grossa do brutamonte que era o inspetor de alunos. – Merda! Merda! Mil vezes merda! – Pensei em agir rápido, talvez correr o mais que pudesse. Mas, a única coisa que estava a minha frente era o palco, era a Bailarina. Corri, pulando cadeiras, e degraus de escadas, e quando me dei conta a luz forte acima do palco me inundava de presença. Engoli a seco. – Merda! – E perdi o ar, perdi o ar completamente quando seus olhos cruzaram os meus. Ela pareceu sorrir, apertei os olhos para ver se enxergava bem. Será que achava graça em me ver fugir do inspetor? – Venha. – Ela estendeu uma de suas mãos, para que eu a pudesse segurar. – Sr. Carlos, oras, está a invadir um ensaio teatral. Esta doce pessoa à minha frente está a ensaiar comigo uma cena. – Visivelmente embaraçado o inspetor arqueou suas sobrancelhas, e deu de costas. E assim novamente os olhos da doce Bailarina encontraram os meus. – Eu não sei exactamente o que estás a fazer, mas... – Interrompi sua fala, dando um pequeno passo a sua direção. – Desculpa-me. Não queria interromper-te. Já vou embora.. – Dei de costas esperando que ela pudesse me intervir. – Não te incomodes. Aparece quando quiseres.. – Abri um leve sorriso podendo agora soltar o ar. O contato foi momentâneo, mas o mais importante estava feito, eu agora estava visível em seu campo de visão, não que ela nunca tivesse me visto, mas agora abria um sorriso a cada vez que me encontrava, possivelmente lembrando-se do fatídico dia no teatro. A missão estava cumprida. Voltei no dia seguinte, e no outro, e no outro, e no outro...


Agradecimentos a amiga de Portugal.

segunda-feira, setembro 20, 2010


Eu lutarei por nós!

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Eu ouvia aquelas palavras soarem de sua boca de uma forma tão violenta, que quase me fizera perder as forças, e cair no chão, com o coração apertado a cada soar de sua voz. Sentia que estava a pontos de ceder à situação, entregar-me de vez a minha possível infelicidade. Infelicidade seria ter que conviver com a única e fraca opção, que meus pais havia imposto para mim; - Ou sua vida, ou aquela pessoa há quem você chama de namorada? - Eles discutiam a minha frente, eram um livro de palavras misturadas, em tons graves e agudos, algumas palavras de decepção, ambos tentavam chegar a um acordo. Ele, meu pai, se lamentava, sentado sobre o sofá. Em alguns momentos via-se apenas o balançar negativo de sua cabeça. Enquanto minha mãe, em pé, apontava os meus ‘acertos’, no quais ela julgava serem erros. Acertos, pois diante da minha visão e pensamentos, havia acertado, sendo a primeira e única tacada certa que havia dado em minha vida; Começar a namorar aquela mulher, que trouxera sentido para os meus dias. As palavras pareciam martelos, amassando cada parte do meu corpo lentamente. Eu não tinha idéia de como seria confessar tudo aquilo. Insultos, decepções, ataques. Droga! Eram meus pais! Como podem me acertar tão profundo e dolorosamente assim? Seria tão mais fácil se simplesmente entendessem que a minha felicidade estava em um nome, em uma pessoa, em uma pessoa igual a mim. Mas, não, fui expulsa, fui maltratada verbalmente. E aqueles que chamavam de meus pais, agora estavam fazendo-se meus inimigos. Diante de toda aquela situação, me senti cair em um poço sem fundo, onde a cada metro que avançava, ia perdendo as minhas forças. Disse quase que em um sussurro, onde que na minha imaginação pude enxergá-la em minha frente – Eu lutarei por nós!

domingo, setembro 19, 2010


Você vai embora?

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Ela caminhou lentamente em minha direção, seu rosto estava baixo, deixando transparecer seu medo de fixar seus olhos nos meus. Seus dedos entrelaçados um nos outros, mantinha sua mão posicionada a frente de seu colo. Eu juro que pude enxergar uma lágrima escorrer sobre seu rosto pálido, apenas maquiado por uma leve camada de pó, que a deixava um pouco mais corada. Balbuciou algumas palavras, quase em um sussuro. Eu não entendia. Aproximei-me de seu corpo inseguro, envolvendo-a em um abraço. Seu corpo parecia desfalecer sobre minhas forças. Apertei-a ainda mais forte. - Calma. Eu estou aqui. - Disse a ela, enquanto sentia toda a vontade em apertar meu corpo contra o seu, não permitindo me mover nem 1 cm. - Por que tem que ser tão difícil? - Ela se entregava ao seu choro eterno, que molhava minha blusa, agora sem nenhuma vergonha. - ... - Eu desejava ter todas as respostas, eu desejava acalmá-la com uma simples palavra, mas nada nos faria esquecer momentos tão difíceis. - Não vá embora.. - Afastei meu rosto do seu, para que pudesse fitá-la nos olhos, rosto que demonstrava cada parte de seus sofrimento. - Eu tenho que ir... - Ainda que achasse ser impossível, ela conseguiu me envolver ainda mais em suas forças, como se quisesse que eu entrasse dentro de seu corpo. Manteu-se calada. Completei - ...ir em busca de nosso futuro. - Abri um leve sorriso. Nesse instante pude ver luz em seus olhos, que sem muito esforço correspondeu ao meu sorriso. - Então, você volta? - Disse em meio a lágrimas e sorrisos. - Eu sempre vou voltar por você...

quarta-feira, setembro 08, 2010


Dar não é fazer Amor

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Bem, recebi um e-mail pedindo para que eu disponibilizasse aqui no blog novamente, um texto de Luís Fernando Veríssimo, no qual eu havia postado um tempo atrás. Atendendo ao pedido aqui está.


“Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca…
Te chama de nomes que eu não escreveria…
Não te vira com delicadeza…
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.

Dar sem querer casar….
Sem querer apresentar pra mãe…
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral…
Te amolece o gingado…
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho…
É não ter alguém para ouvir seus dengos…
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar
Experimente ser amado…”
(Luís Fernando Veríssimo)


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